terça-feira, julho 05, 2005

P[r]o[em][s]a

A mulher,
já atravessada ao lado
oposto da rua,
de viés encarava
o homem
que vendia miçangas.
Belo e nítido.
Constrastava com a alma opaca de seu marido. Nunca comprara porcarias na rua; mas se viu, daquela vez única,terrivelmente enfeitiçada por uma bonequinha de pano, bem mal feita, jogada ao desinteresse popular. Havia naquelacena bem mais que um simples afeto materialista. Estava pasma e intacta a tentar encontrar os olhos do sereno ambulante.
A mulher,
tão absorta,
já sem sentidos feéricos
que a levassem a crer
que não se passava
de um encanto momentâneo,
reatravessou a rua
com os passos embolados
tropeçando nos sonhos nunca acreditados.
Ofegante, ela recobrou-se no exato momento em que dispendia de sua carteira a exata quantia para comprar a boneca. O homem agora, lhe parecia rude. Os olhos cerâmicos, antes moldados à fantasia próspera, pareciam ter tomado a cor cinza e sua beleza lhe parecia entediante. Reatravessou a rua.
A mulher,
que sofria de ilusão,
perdeu-se definitivamente
do amor.

3 Comments:

Blogger henrique said...

Cara, também gostei bastante do seu blog... posso linká-lo?
abraços!

7:19 PM  
Blogger Adalberto Fernandes said...

quem somos nós para dizer o que é o amor e o que é a fantasia?

8:08 PM  
Blogger henrique said...

na verdade eu acho que é um pleonasmo
amor = fantasia

9:30 PM  

Postar um comentário

<< Home